segunda-feira, 17 de setembro de 2012

8º ano - Crônica

8º ano,

Eis a crônica que eu escrevi e que eu prometi postar aqui para que vocês pudessem ler. Quem quiser deixar comentários, ficarei feliz.

beijos a todos

Jujuba


A cadeira vermelha de Duchamp 


Avenida dos Bandeirantes, 6h30 da manhã. Assim como todos os dias, é por ali que meu trajeto segue até o trabalho e, como de costume, parece não haver nada além de carros e muitos (muitos mesmo) caminhões que me desviem a atenção.

Porém, um pouco depois da entrada que leva à Imigrantes, bem à minha esquerda, vejo uma cadeira vermelha pendurada a uma árvore, dessas de pequeno porte, localizada nesses canteiros usados para separar avenidas grandes como essa.

Me assusto, é claro, é comum ver caminhões quebrados, carros presos no engarrafamento do sentido contrário ao meu, mas uma cadeira, presa a uma árvore?

Passo o túnel Maria Maluf, sigo meu caminho e, durante o trabalho, acabo me esquecendo dessa imagem tão inusitada, que só me volta à mente quando retorno pelo mesmo caminho, me fazendo pensar se aquilo era instalação, alucinação ou simples vandalismo.

Nada disso. No dia seguinte, praticamente no mesmo horário, logo que me aproximo da tal excentricidade, percebo que ela continua lá, intacta, recebendo agora pequenos ajustes de um senhor que a acompanha.

O momento é rápido, quase que instantâneo, mas, apesar da aparência mais velha, o reconheço facilmente. É Marcel Duchamp, o revolucionário artista plástico francês, que deu novo sentido à arte com sua roda de bicicleta presa a um banquinho de madeira e sua fonte – um urinol invertido – ambos ready-made.

Tive a impressão que ele acenou pra mim. Tudo fora tão rápido que não deu tempo de conseguir as respostas nem pelo espelho retrovisor, que mostrava apenas uma fila de carros atrás de mim e as mesmices do dia-a-dia. Enfim, não podia parar e, mesmo sem ter certezas, abri o vidro ao meu lado, estiquei o braço para fora do carro e acenei.

“ Au revoir, monseiur Duchamp, merci!”


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